sexta-feira, agosto 06, 2010

O Peixe do Bengala

Todo ato e todo fato tem uma história peculiar, interessante para se contar. Sem se conter-se de algo estranho, natural ou banal. A onda do petisco aquático – de escamas ou sem escamas começou nas segundas-feiras das ressacas homéricas do Adão. O Adão bondoso de coração grandão por natureza, não quis levar a fama sozinho. Convidou alguns amigos do centro da cidade do prédio onde Adão trabalha como vigilante e porteiro para degustar o prato de sua cortesia do Segundão. A reunião do tira-gosto virou a “Segunda-Adão”.

A turminha que frenquentava o barzinho de esquina era sempre a mesma. Uma turma leal e fiel que batia o ponto todo dia. Turma simples e amiga. Servente, pedreiro, marceneiro, bombeiro, comerciante, empresário e aposentado. De pé de cana a gente bacana.

A segunda-Adão foi crescente e passou para a terça. A terça foi crescendo e passou da lua nova para a lua cheia da quarta-feira. E agora a segunda virou quinta. Um tipo de quintão ou quentão de festa de São João durante o ano inteiro.

Uma turma legal que descobriu que é legal quando a moda do peixe frito pegou. Para ampliar o time entrou em campo da turma do André e do Garoto (que não é bombom e nem chocolate). É literalmente um “garotão” bom de garfo. O local virou um rodízio só. São universitários e profissionais liberais. Até mulher bonita começou a freqüentar o Bengala. Garotas chiques e cheirosas.

Tudo começou de uma piaba, lambari e cascudo – fritos ou ao molho. Até chegar a dourados assados na telha. Iguaria de primeira. Frango a passarinho e queijo defumado. Cerveja gelada e papo de política, eleição, profissão, futebol e pescaria.

Assim a coisa foi “crescendo, crescendo e absorvendo” que a rebarba da quinta-feira do André e Adão no Bengala, fica para a tarde de sábado com farofa de jiló, torresmo e caldo de peixe. Até políticos, professor e tubarão grande da grana sobrando debaixo do colchão já começam a bisbilhotar e querer fazer parte da turma... Mas a turminha de primeira – a primeira turminha continua na mesma rotina, com a mesma fidelidade e o mesmo costume e carinho nos dias de feira vespertinos, homéricos e etílicos de toda a semana. Agora, não é mais Clube do Bolinha. As Luluzinhas vez por outra comparecem para tagarelar e beliscar as frituras.

A especiaria do bar – a mania do Bengala, mestre cuca e mão santa é o tempero. Tempero nota 10. Com isso o Sr. Bengala nunca mancou e nunca manca em matéria de asseio e tempero. A cozinha limpa, os banheiros um brinco e a cerveja geladinha. O Bengala sistemático e resmungão vez enquando passa o pito em alguém. Quando os pitantes e palpitantes de plantão burlam a lei e fumegam cigarros dentro do bar. Não pode, procure um lugar lá no meio da rua. Não polua nosso pulmão, vá fumegar perto daquele orelhão! Assim é o Bengala. As crianças chegam e pedem assim “tem guaraná de limão?”. Não tem guaraná de guaraná e tem refrigerante limão. Ambos são frutas, meu filho. Rebate o Bengalão de bengala na mão.

Assim é a turma do Bar do Bengala. Assim, patureba que “enverga, mas não quebra” e que nunca “manca” na vida ou na avenida da alegria e da tristeza, na saúde e na doença. Na crença ou na descrença. São todos amigos ligados de algum modo pelo cheiro do peixe frito das quintas-feiras. Lembrando que como todo cronista aumenta os fatos, ou inverte a história. Assim como todo pescador mente... Muita coisa a gente não se lembra e outras que a gente nem poder contar... Isso é coisa de Bar. O Bar do Bengala onde o peixe exala... toda semana em Patos de Minas. E a turma badala, se embala e exagera no setor dos “comes e bebes”.

Como disse Gilberto Gil na música Minha Gente: “Avisa lá, avisa lá, avisa lá que vou. Avisa lá que eu vou...” Tô chegando rapidinho, rapaziada! Guenta a mão aí...

Civuca Costa – poeta e escritor - Patos de Minas – MG
29 de julho de 2010